Quando o homem inventou a roda foi, para a humanidade, a maior descoberta depois do fogo. Eu, por pura ousadia, ainda incluiria o ar condicionado no ranking das melhores criações do homem. O ar condicionado, o microondas, a máquina de lavar, a pizza... E, certamente, se eu morasse no sudeste ou no sul do país, não me esqueceria de citar o chuveiro elétrico e o sobretudo.
O fato, no entanto, é que os nativos de Pau dos Ferros necessitam “reinventar” a roda. Imaginem que uma jovem senhora chegue à cidade com suas malas enormes cheias de perfumes importados, sapatos luxuosos, roupas das mais famosas grifes, e tenha que caminhar até o hotel (ou pousada, tipo de hospedagem mais comum por aqui) arrastando toda essa bagagem. Não teria a aparência de uma imagem surreal? Ou uma daquelas cenas sobre “não ter para onde ir” dentro de algum filme americano de roteiro deficiente? Para os pauferrenses, estranho seria se a jovem senhora adentrasse no automóvel de um taxista que estivesse à sua pronta espera.
No município de Pau dos Ferros há apenas duas opções de pontos de táxi: um localizado na Praça Monsenhor Caminha – praça central da cidade –, e outro na rodoviária. Se alguém agora me perguntar qual funciona mais adequadamente, responderia que a expressão “mais adequadamente” estaria sobrando na pergunta.
Os três ou quatro taxistas da praça central passam as manhãs e as tardes tomando suas cervejinhas geladas, sem se preocuparem se irá ou não aparecer cliente; à noite, eles parecem ter sido tragados pela terra. O número de táxis do terminal rodoviário, por sua vez, não ultrapassa três carros – em sua totalidade, porque a trabalho às vezes se pode nem precisar contar.
Além da dificuldade de se encontrar esses automóveis, e o risco que você corre?! Oito dias atrás fui assaltada dentro de um deles. Ao atingir o destino final da viagem, fui surpreendida com a seguinte fala do motorista: “foram sete reais”. Detalhe importante: caso eu tivesse caminhado teria gastado menos de dez minutos. Segundo detalhe, bem mais importante: não havia taxímetro (nenhum táxi pauferrense possui o aparelho que confirma ao passageiro o preço a ser pago). Então, diante de uma situação como essa, só resta sorrir elegantemente, retirar da carteira o valor cobrado, e deixar para chorar no momento em que o carro tiver ido embora.
É, quando a Angélica quiser visitar Pau dos Ferros irei me lembrar de aconselhá-la a desistir de pegar um táxi, e aderir aos veículos de transporte coletivo. Ops! Estes também não existem.